Devaneios e incertezas

matrioskas posterQuando comecei esse blog, por influência de amigas e pessoas que me conhecem o suficientemente bem para saber o quanto gosto de moda, fotografia e afins, não imaginei o quanto sentiria saudade de um outro espaço que já tive. Um antigo blog onde abria tanto a minha vida em escritos e aventuras não mais lembradas, que podia sentir a tinta marcando não só a mim, mas outros papéis, digamos assim.

Essa enrolação toda, é para pedir licença aos looks do dia, as roupas da moda e as tendências, para deixar eu, Camila, falar um pouco. O meu lado carente, meu lado sorridente, meu lado que é meio lado algum, apenas eu. A vida toda ouvi nas aulas de matemática que a ordem dos fatores não altera o resultado, hoje sou convencida que na matemática isso realmente é verdade, mas na vida real a pisadinha não é bem assim.

Quando algo nos acontece, que nos fere, nos magoa, assim que superado deixa um rastro de “nunca mais vou passar por isso”. O problema é que essa decisão não cabe a você. As vezes por mais decidida que esteja a não vivenciar todas aquelas decepções, o destino te mostra o quão pequena você é diante da grandiosidade de babaquices que o mundo pode trazer. Sim, você é pequena. Tão pequena que as vezes nem se nota, e isso é comportamento de gente grande. Ser gente grande, te diminui.

Lembro quando pintei o cabelo de roxo, pessoas grandes me olhavam com surpresa, reprovação, ou até elogiavam, mas depois de uma série de perguntas ou frases de “nossa que coragem”. Durante esse período numa mesma noite de carnaval, encontrei com duas crianças que me olharam e sem perguntas, sem desvios ou surpresas, me disseram: – Seu cabelo é muito lindo!

Na hora notei que meus olhos quiseram lacrimejar, não pelo elogio, porque como disse outras pessoas gostaram, e isso para mim não era o mais importante – era eu ter gostado -. Mas pela leveza, pela doçura, pelo fato de aos olhos de uma criança, não existir cor normal para um cabelo, nem penteado, nem rótulos, roxo é apenas uma cor. As crianças, diferente de nós, aspirantes a adultos, horas frustrados e hora esperançosos, são puras, são tolerantes. Como dois braços abertos a espera de um abraço, que normalmente é dado.

Porque tem isso também, quando você cresce, você quer abraçar, mais deixa para uma hora mais oportuna. Você quer beijar, mas deixa para quando tiverem menos pessoas a sua volta. Você quer amar, mas se acha muito jovem, para dividir tudo que tem – por dentro – com alguém. Fico besta como para alguns sexo aparentemente não exige tanta intimidade, quanto conversar sobre suas bandas preferidas ou sua religião. Não estou julgando ninguém, respeito cada um dos posicionamentos, só me parece tanto idiota se privar de tudo que se quer para não parecer bobo, não parecer apaixonado, ou até parecer gente. Cada dia mais queremos ser super heróis, em busca da casa, pessoa certa, e empregos perfeitos, tudo isso sem bagunçar os cabelos.

O mal da gente grande é podar comportamentos, é decidir o que é bom e o que é ruim, como em uma receita de bolo, que caso adicionar muita farinha estraga. Não existe bem ou mal, não existem vilões e nem mocinhos, a situação é que fala mais alto. É muita intolerância e desrespeito, ou muito riso e máscaras. Todo erro que cometemos, deve servir de exemplo para eventuais repetições, mas passados, devem ser perdoados – principalmente quando cometidos por nós -, devem ser isolados para não se multiplicarem e nos tornarmos pessoas de armaduras, que a tudo temem e de tudo se protegem.

A vida é tão frágil, Camila.

Estou escrevendo para me lembrar disso, não é lição de moral para ninguém. Ultimamente nem em sonhos, tenho conseguido sair de cima daquele muro, aquela muralha que se divide entre passado e futuro. Entre arriscar, ou nunca ser plena. E aí, dou aquele passo a mais para a ponta do abismo, vejo que as oportunidades estão lá embaixo, mas por um segundo penso:

– E se o chão não for macio?!

Dou meia volta, e acordo.

Um comentário sobre “Devaneios e incertezas

  1. Pam disse:

    Não sei se estou no post certo, rs, mas queria deixar um recado em relação ao seu desabafo. Já dizia uma autora que eu adoro (Lya Luft): “Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização.”
    Sabe, crianças tendem a ser mais espontâneas mesmo, rs, lembro uma vez quando eu era pequenininha, eu perguntei a um deficiente físico (que tinha perdido as pernas): “Doeu?” E ele disse, depois de olhar pro “nada” em silêncio por alguns segundos: “Não lembro. A dor foi tão forte que eu acho que não senti nada”. Provavelmente, um adulto poderia ter me censurado pela pergunta inconveniente, mas de uma coisa eu sei…quando a gente reconhece uma perda, um sofrimento, uma angustia, (reconhecer mesmo, assumir), aquilo vai ficando menor e a gente consegue superar mais fácil. Não falar de um problema, uma fraqueza, não vai elimina-lo de nossa vida… e escrever é uma ótima maneira de exorcizar nossos fantasmas. 😉

    “Quanto mais civilizados, menos naturais somos.”(também da Lya Luft). Bj

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